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sexta-feira, 27 de maio de 2011
CARNAVAL DE BELO HORIZONTE DE 1980 A 2011 - O QUE FOI QUE MUDOU? - POR MESTRE AFFONSO.
FOTO: GRES.CIDADE JARDIM 1990
Sei que tem gente que vai chiar, porque existem muitos interesses particulares no nosso carnaval. Mas a verdade é que não houve avanço, infelizmente de 1980 para cá o que houve foi um enorme retrocesso. Isto porque ninguém cresceu e muitos dos que estão chegando agora já se julgam donos da matéria, mesmo que em sete anos do que chamam de retomada do carnaval, não tenham acrescentado nada em forma de projetos e idéias viáveis. Querem dinheiro e outros benefícios, mas a maioria dos presidentes das agremiações, principalmente no caso das escolas de samba, foge das responsabilidades quando necessário. É só ver o que está acontecendo com o Sambadez, que foi criado para unir e defender os interesses das escolas de samba e hoje virou um verdadeiro caos.
O paternalismo do poder continua firme e forte e até melhorou em termos financeiros com a entrada da CEMIG nos dois últimos anos. A diferença é que no passado as verbas eram melhor distribuídas, a fiscalização mais rigorosa, a política atuava de forma mais concisa, e a iniciativa privada tinha mais proximidade com o carnaval. Se no passado tínhamos a União das Escolas de Samba e Blocos Caricatos que conseguia verbas, hoje temos três entidades que além de não combinarem entre si, vivem às turras com a Belotur. E o pior é que já estão articulando (por debaixo dos panos) a criação da Federação Mineira das Escolas de Samba. Quem não dá conta de BH está querendo abraçar Minas Gerais, é mole? Olha as dívidas aí gente!
No passado todas as escolas de samba receberam terrenos em comodato, mas a única que a duras penas manteve sua quadra é a Cidade Jardim. No mais, nenhum, nem um tijolo foi colocado nos terrenos recebidos, o que levou o poder a retomá-los dando-lhes outros destinos. A farra era tanta que até a União das Escolas de Samba e Blocos Caricatos, ganhou terreno, Kombi e telefone. No terreno nada foi feito, ma a Kombi e o telefone foram muito bem usados, não pelos sambistas... Aqui vale dizer que tudo sumiu (mas existem documentos), assim como sumiram holofotes, som, e até instrumentos dentro da Belotur. Sobre os registros históricos do nosso carnaval eu nem falo, o que existe é muito pouco.
Os blocos caricatos eram diferentes. Cada bairro tinha o seu ou os seus, que eram mantidos pelas comunidades, pelos próprios desfilantes, e por uma pequena verba doada pela prefeitura. Mas bloco caricato na década de 1980 era uma representação cultural infinitamente diferente do que vemos hoje. Hoje, nem eu que sou velho de guerra consigo entender o que eles são na verdade: escola de samba que não deu certo, bloco carnavalesco ou o Samba do Crioulo Doido. Bloco Caricato hoje tem samba-enredo, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, destaques, e alguns levam mais de cem pessoas no chão. Só falta colocarem a ala das crianças (em alguns já existem), ala das baianas, e passar a bateria para o chão.
O diferencial entre os carnavais é que antes havia mais respeito, mais alegria, mais congraçamento, mais beleza, mais charme, e mesmo com todos os problemas, mais organização.
Erros existiam também no passado, tanto isso é verdade que ninguém conseguiu construir nada e todos continuam agarrados à tábua de salvação que é o poder. Tábua que salva alguns e prejudica os que fazem carnaval com seriedade. A Belotur não se profissionaliza no carnaval e não está nem aí para os gritos e murmúrios das agremiações. Parece que a coisa é feita só para tapar a boca da pobreza e dar satisfação aos intelectuais que falam de carnaval e pobreza tomando uísque 12 anos, em salas com ar refrigerado.
Nosso carnaval merece mais força, mais atenção. Como em várias cidades brasileiras, temos a capacidade - dentro das nossas possibilidades e visões de cultura – de realizar um belo carnaval. Lá, na década de 1980 como cá, em 2011, o que mais precisamos é de coragem para acabar de vez com o provincianismo, com o amadorismo, e principalmente com aqueles que falsamente se dizem carnavalescos, levando vantagens pessoais no evento. Quebrar paradigmas é preciso, expurgar os desonestos e os sapos é mais que necessário, profissionalizar o carnaval é vital.
Obrigado, meu Deus, pela honra e a glória de ter nascido sambista.
mestreaffonso@bol.com.br
Blog: http://mestreaffonsozip.net
*Afonso Marra Filho, o Mestre Affonso, é natural de Belo Horizonte. Músico, produtor, radialista, colunista, está imerso no mundo do samba há 50 anos. Como diretor de Bateria, é detentor de vinte notas dez e vários Tamborins de Ouro, maior premiação individual no Carnaval de Belo Horizonte. Há seis anos, é colaborador do Programa Acir Antão, como repórter do samba, na Rádio Itatiaia, todos os domingos. A partir de agora passa também a colaborar com esse blog. Toda sexta-feira, a COLUNA DO MESTRE AFFONSO oferece dicas de rodas de samba, conta histórias e causos e passa um pouco de sua experiência.
27/05/2011 - 13h29
FONTE :
http://www.otempo.com.br/blogs/?IdBlog=12
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